A busca incessante da fama
Na
postagem anterior, falamos sobre a busca incessante de Marie Bashkirtseff pela fama e pela posteridade. Fizemos uma breve
introdução sobre o seu Diário e os
últimos momentos da sua vida. Eu não capitulo,
escreveu certa vez, diante do mal que a levaria para o túmulo.
No
momento em que surgia um novo modelo feminino – aquele que as mulheres de hoje
sustentam, para inaugurar a rebelião contra um mundo dominado por homens que
instituíram o casamento como seu único destino, as meninas leitoras espantaram-se
com as batalhas dessa jovem frágil que travou suas cruzadas lastimando a
condição feminina de seu século. Narcisista, sim, mas sobrecarregada de amor próprio,
ela aceitou todos os desafios e trabalhou incansavelmente para ser grande entre
os grandes e assim soube insuflar de autoestima o coração de suas leitoras.
A primeira edição do Diário, uma visão resumida e censurada dos manuscritos
Outras publicações mundo afora
O Diário logo começou a ser reproduzido em
diferentes idiomas do mundo e o eco de sua voz foi ouvido em metrópoles tão
distantes como Tóquio ou Buenos Aires; também nos Estados Unidos e no resto da
Europa, por mais de meio século, as jovens leram aquelas páginas com ardor para
venerar sua vida e deplorar sua tragédia.
No crepúsculo de um século sombrio em que as meninas
só aprenderam a falar de seus corações, Marie falou de seu corpo. Pierre-Jean Remy,
escritor francês, prólogo da versão integral do Diário publicado pelo Cercle
des Amis (Círculo de Amigos) de Marie Bashkirtseff.
Em
1925, cinco anos após a morte de Madame Bashkirtseff e treze desde que ela
depositou os manuscritos originais na Biblioteca
Nacional da França (1912), uma cláusula impedia que eles fossem divulgado
até 1930. Mas, Pierre Borel, um
escritor menor, começou a publicar uma série de volumes com textos inéditos do Diário:
Cahiers Intimes Inédits de Marie
Bashkirtseff (cadernos íntimos não publicados de Marie Bashkirtseff);
Les Confessions de Marie Bashkirtseff (As confissões de Marie Bashkirtseff);
Le Premier et le Dernier Voyage de Marie Bashkirtseff (A primeira e a última viagem de Marie Bashkirtseff);
La Véritable Marie Bashkirtseff (A real Marie Bashkirtseff), e provavelmente mais algumas.
Pierre Borel foi por muito tempo um herói para os estudiosos da vida de Marie Bashkirtseff. No entanto, embora uma profusão de textos censurados dessa primeira edição apareça nesses livros, a verdadeira Marie Bashkirtseff permaneceu desconhecida.
Estamos agora convencidos de que Borel nunca
trabalhou com o manuscrito original, mas, provavelmente, com aquela cópia que
Madame Bashkirtseff e sua sobrinha Dina haviam executado no final da década de
1880, enfim, também um texto censurado.
Décadas seguintes
Na
década de 1960 ela caiu no esquecimento, justamente porque para aquelas
mulheres que se libertavam da ocultação e do preconceito, a sua imagem inocente
a submergia na penumbra. Seu status de aristocrata, quando já havia caído em
obsolescência, também não a favorecia. Com poucas exceções, leitores e editores
viraram as costas para ela.
Mesmo
assim, Doris Langley Moore encontrou
o manuscrito original do Diário de Marie
Bashkirtseff na Biblioteca Nacional da França e de lá extraiu material para
seu livro Marie and the Duke of H.: The
Dreamy Love Story of Marie Bashkirtseff.
Em
1985, a professora Colette Cosnier,
grande biógrafa de grandes mulheres esquecidas, publicou uma magnífica
biografia ilustrada: Marie Bashkirtseff.
Un portrait sans retouches (Um retrato sem retoques), depois de ler todo o
monumental manuscrito original do Diário,
depositado na Biblioteca Nacional da França.
Desde
1995, o Cercle des Amis de Marie Bashkirtseff vinha publicando
outra versão completa do Diário de Marie
Bashkirtseff. Com a transcrição do manuscrito original pela Alma Mater do Cercle, Madame Ginette Apostolescu, a edição foi
concluída em 2005, com dezesseis volumes de cerca de trezentas e cinquenta
páginas cada.
Em
1999, uma versão supostamente completa do Diário
apareceu sob a editora L'Age de
l'Homme. Lucile Le Roy foi
responsável pela transcrição e extenso trabalho de investigação, que resultou
em uma excelente edição abundantemente comentada. Infelizmente, dos cinco
volumes projetados, só apareceu aquele que deveria ter sido o terceiro e que
cobria apenas três dos doze anos de anotações.
A
professora norte-americana Phyllis
Howard Kernberger, nos anos 1970 começou a tradução do Diário para o inglês, a partir dos microfilmes do manuscrito
original que ela havia solicitado à BNF. Sua filha, a professora Katherine Kernberger, herdou sua paixão
e continuou o trabalho ao publicar, em 1997, o primeiro volume do Diário, em inglês. Em 2013, a segunda e
última parte, baseada na edição Cercle
des Amis.
Quem foi, afinal, Marie Bashkirtseff?
As pessoas, naquela época, costumavam ter tempo, é a primeira coisa que vem à razão. Sim, ela tinha tempo, rica como ela teve a sorte de nascer. No entanto, ela poderia muito bem ter se dedicado à mesma coisa que a grande maioria das moças de sua classe, ficar na ociosidade, simplesmente esperando um marido.
A
edição do Diário influenciou sua
notoriedade como pintora? Talvez um pouco. No entanto, alguns anos antes de sua
morte, o público e a crítica já haviam reconhecido seu talento. O Estado
francês adquiriu sua tela Encontro
para o museu de Luxemburgo dois anos antes do surgimento do Diário.
Escrever sobre Marie Bashkirtseef exige um grande trabalho de pesquisa e condensação para o espaço limitado deste blog. Este texto teve como base o blog do escritor e jornalista argentino José Horacio Mito .
Ele descobriu Marie Bashkirtseff na juventude, em Buenos Aires nos anos 1970, lendo o Diário, uma edição amarelada que encontrou em um dos muitos sebos lendários da Avenida Corrientes.
Aconselho também a leitura de Os diários de Marie Bashkirtseff e de Florbela Espanca, tese de Jonas Jefferson de Souza Leite, mestre em Literatura e Interculturalidade pela Universidade Estadual da Paraíba. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade da Universidade Estadual da Paraíba.
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