Seu constante desafio ao sionismo
Segundo
Huzama, o fato de ela ser uma refugiada palestina de segunda geração, com todo
o excesso de bagagem que isso traz, adicionou um elemento complexo, pois ela
não pôde deixar de se debruçar sobre sentimentos de desconforto, tremor,
desenraizamento e a sensação de não pertencimento. Seu pai e sua família
cresceram nos acampamentos espalhados ao redor da Jordânia e ela passava os
verões lá com seus primos.
Como uma palestina de classe média que
cresceu no Kuwait, a vida de Huzama não era tão diferente de como sua família
na Jordânia vivia. "Estávamos apertados em um pequeno apartamento com uma
renda escassa. Às vezes, mal conseguíamos sobreviver. Para ambas as famílias da
zona da diáspora, cada dia de vida era uma tentativa de sobrevivência. A
identidade palestina criou uma consciência coletiva que era como um fio que
conectava os palestinos à diáspora."
Em quase todas as suas obras, seja um
romance ou um conto, há uma adesão total à sua identidade palestina; e isso é
surpreendentemente evidente em seus dois primeiros romances e em um grande
número de histórias de suas quatro coleções. Nas suas traduções ela também
demonstra isso claramente ao escolher livros cujo conteúdo revele a crise
palestina e as políticas injustas adotadas por Israel contra os
palestinos.
O seu mais importante desafio ao
sionismo foi uma campanha que ela lançou contra a publicação de uma antologia
de contos de mulheres do Oriente Médio, organizada pela Universidade do Texas, em Austin. A inclusão de contos de dois
autores israelenses foi o motivo que a levou a retirar 0 seu artigo. Em
seguida, ela entrou em contato com todos os autores árabes e convence-os a
seguir seu exemplo. A campanha foi bem-sucedida, pois a maioria dos autores
retirou seus manuscritos, obrigando a instituição a cancelar a publicação.
Habayeb justificou suas ações em um
editorial publicado no Gulf News dos
Emirados Árabes Unidos, em 25 de maio de 2012: "Não posso aceitar, ética e
moralmente, que minha voz seja compartilhada igualmente com escritores que
refletem a voz de um ocupante repugnante..."
Ela considera que, por ser romancista
palestina, é importante não escrever alegorias políticas e sim personagens
reais e totalmente dimensionais. “Eu não escrevo política. A questão palestina
para mim é mais das pessoas – aquelas esquecidas – cujas histórias, dores e
sofrimentos não contados precisam ser desvendados”.
O premiado romance Velvet, em árabe, e sua também premiada tradução para o inglês
Velvet (Veludo), romance Mujmal (resumo) publicado pela Hoopoe Fiction (AUC Press, Cairo 2019) e ganhador da Medalha Naguib Mahfouz de Literatura de 2017, mostra o intrigante
reino dos campos palestinos de uma maneira sem remorso, profunda e brutalmente
honesta.
Em meio
ao ambiente hostil e áspero do campo de refugiados de Baqa'a, na Jordânia, Hawwa (o
equivalente a Eva), aprendiz de costureira palestina passa
as mãos por rolos de veludo. Mãos que falam de um espírito decadente e até
agora só testemunham a perda coletiva do passado. Hawwa consegue sobreviver ao próprio campo de refugiados,
bem como à humilhação e destruição de uma vida familiar ultrajante.
A
história é narrada com uma sensibilidade particular relacionada ao mundo
sensual, embora trágico, da personagem; sobretudo, em relação ao seu
desafio perturbador e heroico da realidade. A dureza do cotidiano de Hawwa
contrasta radicalmente com a suavidade do material em torno do qual gira seu
mundo. De certa forma, o romance é um estudo sobre a claustrofobia
decorrente da pobreza e da opressão; de cotidianos despidos de qualquer
tipo de ternura; o jugo familiar e o patriarcado.
É a história de uma mulher prodigiosa
que luta para sobreviver e amar e revive a si mesma cada vez que é despedaçada
e perseverantemente cumpre seus desejos, apesar da sociedade que a esmaga
implacavelmente. Hawwa encontra
sua fuga da implacável vida cotidiana do campo e de um marido que, como seu
pai, bate nela regularmente.
Velvet,
é tecido com as próprias memórias de Huzama, do tempo que ela passou com sua
família. Enquanto escrevia, ela mantinha pedaços de tecido que havia comprado
nos souqs fora do campo e estudava as
fotografias que havia tirado lá como parte de sua pesquisa.
Kay Heikkinen e a tradução
premiada de Velvet
Trata-se de um prêmio concedido
anualmente aos tradutores de uma obra publicada em inglês a partir de outra
inteiramente em árabe e de reconhecido mérito literário. O prêmio é
administrado pela Society of Authors of
the United Kingdom e seu objetivo é aumentar a notoriedade da Literatura
árabe contemporânea, estabelecido pela Banipal,
a revista de Literatura árabe moderna e pela Fundação Banipal para Literatura Árabe.
O júri
ficou impressionado com a forma como a tradução de Kay Heikkinen consegue
transmitir não apenas o significado, mas também o tom e a emoção do texto
original, dando vida a uma narrativa que descreve profusamente a vida reprimida
da mulher palestina comum, evitando, é claro, mencionar qualquer tipo de clichê
político. A história
“é contada em um árabe rico e cuidadosamente elaborado que representa um
desafio significativo para qualquer tradutor, exigindo resistência e
resiliência, além de exatidão e precisão”.
Ela traduzia como se
estivesse costurando um vestido ou fazendo algum tipo de bordado. Eu diria que
Kay abraçou o mundo de Velvet e conseguiu reproduzir habilmente o lirismo, o
sentimento geral e a vibração da narrativa de uma maneira que superou as
disparidades culturais e linguísticas entre o árabe e o inglês. Huzama
Habayeb.
Conto, poesia, romance e não ficção
Conto
Em 1992, ela recebeu o Jerusalem Festival of Youth Innovation in
Short Stories seu primeiro prêmio de escrita com a coleção de contos O
homem que recorre ( الرَّجُل الذي يَتَكرَّر) publicado pelo Arab
Institute for Research and Publications (AIRP), editora que mais publica
suas obras.
Em 1994, ela recebeu o Mahmoud Seif Eddin Al-Erani, seu segundo
prêmio com a coleção de contos As maçãs distantes (التُفَّاحات البَعيدَة) concedido
pela Al-Karmel Publishing House—Jordanian
Writers Association.
Uma forma de ausência (شَكْلٌ للغِياب), sua terceira coleção de contos, publicada pela
AIRP, em 1997, foi um ponto de inflexão, ou seja, um momento no qual houve uma
mudança na técnica de escrita de Habayeb. Em uma entrevista na TV Al Jazeera, em 4 de maio de 2004, ela explicou
que todas as personagens femininas das diferentes histórias poderiam ser a
mesma pessoa; todas aquelas pessoas sentiram como se "pertencessem a uma só
mulher.
Noite doce (لَيْلٌ أحْلَى), lançado em 2002 também pela AIRP— foi a quarta e última coleção de contos que Habayeb publicou antes de fazer a transição para o romance. Uma resenha publicada em 1º de fevereiro de 2002 no Al-Hayat, jornal de Londres, elogiou a coleção dizendo que "ela desenterra os mesmos lugares que suas histórias costumam abordar, mas a escavação nesta nova coleção é mais profunda, mais distante, mais rica e mais ousada do que nunca.
Poesia
Em maio de 1990, ela publicou uma
coleção de quatorze poemas em versos livres intitulada Imagens, na edição 23 da revista An-Naqid, sediada em Londres. Sua obra
poética intitulada Mendicância é a mais notável coleção de poesia publicada em
2009 pelo AIRP.
Romance
2007 – A Origem do Amor (Asl al-hawa), aclamado pela
crítica.
2011 – Antes que a rainha adormeça
(Qabla an tanama al-malika), que os
críticos descreveram como um romance épico da diáspora palestina.
2016 – Velvet (Mujmal) primeira edição em árabe publicada. Em dezembro de 2017 obteve a Medalha Naguib Mahfuz de Literatura.
A Origem do Amor (أصْل الهَوَى) causou uma tempestade de controvérsias devido à
abundância de conteúdo sexual; apresentado tanto por meio de insinuações quanto
explicitamente. O romance foi banido na Jordânia, onde foi impresso, por ordem
do Departamento de Imprensa e Publicações.
O romancista e crítico literário
palestino Waleed Abu Bakr escreveu um
artigo crítico sobre o romance A Origem
do Amor, em agosto de 2007, no qual o descreveu como "um romance sério
e significativo em termos de técnicas de contar histórias ou a importância dos
temas cruciais. Todas as cenas de sexo ricas e bem estruturadas não se destinam
apenas a despertar – o que é algo que o leitor pode sentir sem suspeita devido
à ausência de erotismo em sua forma clichê e vulgar – mas para alcançar a
igualdade de gênero".
Antes que a rainha adormeça (قَبْلَ أن تَنامَ المَلِكَة) é um romance que mergulha nas profundezas da humanidade palestina e oferece uma narrativa dos pecados cometidos pelos desonestos. A realidade árabe contra os palestinos: pecados que degradam a humanidade dessa realidade e aumentam a força dos palestinos e a nobreza de sua posição. Por ser autora de uma geração que não nasceu na Palestina, sua escrita assume um significado exacerbado que enfatiza a direita palestina e seu entrincheiramento no conhecimento. É um romance que descreve a mulher palestina como nunca foi escrito de forma tão eficaz e profunda, e sem qualquer sentimento emocional."
Não-ficção
Habayeb escreveu para vários jornais e
revistas diários, como Al Ra'i, Ad-Dustour, Doha Magazine, Al-Qafilah
Magazine e Dubai Al-Thakafiya,
revista mensal na qual atualmente tem sua própria coluna. Ela aborda vários
temas em suas obras de não-ficção – política, Literatura, questões sociais,
arte, antropologia e experiências pessoais.
Apesar de ser uma autora árabe cuja
ficção publicada é escrita em árabe, Habayeb conseguiu desenvolver uma
reputação internacional participando de vários eventos culturais que ocorreram
fora do mundo árabe e também traduzindo algumas de suas obras para o inglês.
Em setembro de 2011, em Oslo –
Noruega, ela participou do evento cultural Visualizando
a Palestina, sobre Literatura palestina. O evento incluiu palestras e
leituras de seminários com vários autores palestinos. Cm abril de 2012, ela
participou de um evento cultural organizado pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Hankuk, na Coreia do Sul.
Participou de uma palestra sobre a discriminação a que os palestinos são
submetidos nos estados árabes.
Algumas das histórias de Habayeb foram
traduzidas para o inglês, o que ajudou o eco de sua voz literária a alcançar
mais leitores em todo o mundo. A revista Banipal, com sede em Londres, publicou uma série
de obras de Habayeb traduzidas para o inglês, como o conto Noite mais doce (لَيلٌ أحْلَى) da coleção de mesmo nome, e o décimo segundo
capítulo do romance Antes que a rainha adormeça (قَبْلَ أنْ تَنَامَ المَلِكَة).
Ela também foi uma das autoras de Qissat, uma antologia de contos escritos
por escritoras palestinas publicada em 2006, com o conto Broches de linha (خَيْطٌ يَنْقَطِع) de sua quarta coleção de contos Noite mais doce ( لَيْلٌ أحْلَى).
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