quinta-feira, 21 de julho de 2022

KIM THÚY - A BELEZA VAI SALVAR O MUNDO

 




Kim Thúy Ly Thanh é uma premiada romancista e contista vietnamita. Ela e sua família estavam entre os milhares de refugiados de barco após a queda de Saigon. Em 1979, eles foram muito bem recebidos no Canadá, primeiro em Granby, cidade localizada na província de Quebec e, por último, em Montreal.


A dura realidade da Guerra do Vietnã


A Guerra do Vietnã foi um conflito entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul, no período de 1959 a 1975. Esse conflito foi motivado por questões ideológicas e contou com a intensa participação do exército americano de 1965 a 1973. Estima-se que entre 1,5 milhão e 3 milhões de pessoas tenham morrido durante a guerra.


Em 30 de abril de 1975, Saigon, até então capital do Vietnã do Sul, foi derrubada diante da entrada das forças comunistas do norte, marcando o fim de uma intervenção militar americana de quase duas décadas no país asiático. Foi um momento humilhante para o país mais poderoso do mundo. Após a saída dos EUA, o norte invadiu o sul e unificou o país. Em homenagem a Ho Chi Minh, que já havia morrido antes do final da guerra, o governo mudou o nome de Saigon para Cidade de Ho Chi Minh, em 1975.


De uma viagem tumultuada de “boat people” ao “gene da felicidade”



Na primavera de 1975, a guerra no Vietnã terminou com a queda de Saigon, seguida de um êxodo por mar de de um milhão de vietnamitas refugiados que mais tarde foram chamados de “boat people”. Para escapar do repressivo regime comunista, seus pais, ela e mais dois irmãos, fugiram de barco quando ela estava com dez anos. 



Depois de uma estadia na Malásia eles passaram quatro meses em um campo administrado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, antes que uma delegação canadense selecionasse seus pais para o status de refugiado por conta de sua proficiência na língua francesa. No final de 1979, Thúy e sua família chegaram a Granby, cidade localizada na província de Quebec.


Pouco depois seu pai recebeu uma oferta de emprego como gerente do Castel Hotel. Este primeiro gesto de boas-vindas e o apoio incondicional de seus pais influenciaram muito a vida de Kim Thúy. Seu pai lhe transmitiu o “gene da felicidade” e sua mãe a ensinou a superar seus medos, dando-lhe as ferramentas certas que a transformaram na mulher forte, comprometida e apaixonada que é hoje. 


Educação e início de carreira


Em 1990, ela obteve o diploma de bacharel em linguística e tradução pela Université de Montréal. Em 1993, na mesma universidade, ela se formou em direito. Foi também costureira, caixa, tradutora, intérprete, comentarista gastronômica e restaurateur (pessoa que abre e gerencia profissionalmente restaurantes). Trabalhando como advogada no escritório Stikeman Elliott ela foi designada para ajudar em um projeto no Vietnã. Ela retornou ao seu país como parte de um grupo de especialistas canadenses no aconselhamento para a liderança comunista a caminho do capitalismo. 



De volta a Montreal, Thúy abriu um restaurante chamado Ru de Nam, especializado em culinária vietnamita moderna. Ela trabalhou como restaurateur por cinco anos. Graças a um ex-patrocinador do seu restaurante, ela conseguiu um contrato de publicação de Ru, seu primeiro livro. Publicado em 2009,  a obra recebeu elogios imediatos da crítica e vários prêmios de prestígio. 


A beleza vai salvar o mundo



A missão de vida de Kim Thúy é desacelerar a vida das pessoas para que elas vejam toda a beleza que as cerca. Como ela diz tão bem: se pararmos um pouco, é aqui que o extraordinário emerge e se revela. Quando Kim se vê falando em público, o mundo externo não existe mais para ela. Nesses momentos íntimos, ela e seu público formam um casulo, uma bolha; o tempo para e daí emerge a riqueza e a beleza. Um de seus lemas é uma famosa frase de Dostoiévski: A beleza salvará o mundo. Para Kim, a capacidade de ver a beleza deste mundo é nossa única arma de resistência contra todas as formas de ameaças e incertezas.


Obras literárias


Ru (Em, no francês) - em francês, ru significa pequeno riacho e em vietnamita, berço e balançar. No meio da guerra, um milagre comum: um bebê abandonado cuidado carinhosamente por um menino que vive nas ruas de Saigon. O menino é Louis, filho de um soldado americano há muito desaparecido. Louis chama o bebê de Hồng, que significa “irmãzinha” ou “amada”. Mesmo que seu berço não seja nada mais do que uma caixa de papelão, a vida de em Hồng tem todas as possibilidades.


Por meio dos destinos ligados de uma família, o romance se inspira em eventos históricos, incluindo a Operação Babylift, que evacuou milhares de órfãos birraciais de Saigon em abril de 1975, e o notável crescimento da indústria de salões de unhas, dominada por expatriados vietnamitas espalhados pelo mundo. Das plantações de borracha da Indochina ao massacre em My Lai, Kim Thúy vasculha as camadas de dor e trauma em histórias que pensávamos conhecer, revelando momentos transcendentes de graça e a invencibilidade do espírito humano. 



À toi (Para você - 2011) - em um evento literário em Mônaco, ela conheceu o autor franco-eslovaco-suíço Pascal Janovjak. O encontro deu origem a uma correspondência que mais tarde se tornou livro. A obra conta a história por meio de memórias e anedotas, de duas crianças em exílio e numa vida nômade.



Mãn (Libre Expression, 2013) - Mãn tem três mães: a mãe biológica em tempos de guerra, a freira que a arranca de uma horta e sua amada Maman, que se torna espiã para sobreviver. Buscando segurança para sua filha crescida, Maman encontra um marido para Mãn – um solitário dono de restaurante vietnamita que mora em Montreal.


Lançada em um novo mundo, Mãn descobre seu talento natural como chef. Graciosamente ela pratica sua arte, tendo a comida como seu meio. Ela cria pratos que são muito mais do que sustento para o corpo: eles evocam memória e emoção, tempo e lugar, e até levam seus clientes às lágrimas.


Vi (Libre Expression, 2016) - caçula de quatro filhos e única menina, Vi recebeu um nome que significa "preciosa, pequenina", destinada a ser mimada e protegida, o pequeno tesouro da família. Filha de uma mãe empreendedora e um pai rico e mimado que nunca teve que crescer, a Guerra do Vietnã destrói a vida que eles conheceram. Vi, junto com sua mãe e irmãos, consegue escapar – mas seu pai fica para trás, deixando um vazio doloroso enquanto o resto da família deve buscar  uma nova vida no Canadá.



Enquanto sua família cria raízes, a vida tem planos diferentes para Vi. Quando jovem, ela encontra o mundo se abrindo para ela. Colocada sob as asas de , uma amiga da família mundana, e seu amante diplomata, Vi testa os limites pessoais e cruza os internacionais, deixando os ventos da vida baterem nela. De Saigon a Montreal, de Suzhou a Boston até a queda do Muro de Berlim, ela é testemunha da imensidão do mundo, do intrincado tecido da humanidade, da complexidade do amor e das infinitas possibilidades diante dela. Sempre a observadora quieta, de alguma forma ela deve encontrar uma maneira de finalmente ocupar seu lugar no mundo.



Le secret des Vietnamiennes (Montréal: Trécarré, 2017) -  livro de receitas contendo mais de 50 receitas vietnamitas, muitas vezes acompanhadas de um pequeno texto, um trecho de livro ou uma anedota, permitindo ao leitor uma visão do universo único da autora. Ela demonstra um talento inegável para contar histórias do coração com sutileza, humor e verdade. Ganhador do ouro/ou prêmio Taste Canada 2018 dans la catégorie Langue française: Livres de cuisine régionale et culturelle





Em 2019, o livro foi publicado em inglês como  Secrets from My Vietnamese Kitchen: Simple Recipes from My Many Mothers (Segredos da minha cozinha vietnamita: receitas simples de minhas muitas mães. Appetite by Random House).


Autismo explicado aos não autistas - Em 2017, escrevendo como mãe de uma criança autista, ela foi colaboradora do livro L'Autisme expliqué aux non-autistes (“Autism Explained to Non-Autistic Persons” - Trécarré) de Brigitte Harrisson e Lise St-Charles, fundadoras do método de comunicação Saccade. Kim finalmente conseguiu entender e ser compreendida por seu filho Valmond. O livro é uma colaboração entre Kim Thúy e as duas especialistas (a própria Brigitte é autista). O objetivo do livro é compartilhar com outras famílias os benefícios desse método para uma melhor compreensão desse transtorno e suas implicações.


Em agosto de 2016, Thúy substituiu o contador de histórias Fred Pellerin como representante de Quebec para os dicionários Le Robert (Le Petit Robert, entre outros). 


Prêmios e honrarias


Como membro do conselho do CALQ - Conseil des arts et des letter du Québec, Kim Thúy recebeu o Prêmio Paul Gérin-Lajoie Tolerance. Ela foi nomeada Cavaleiro da Ordre national du Québec e recebeu a Médaille d'honneur da Assemblée nationale du Québec. Ela também é porta-voz da Petit-Robert desde 2016 e seu nome aparece na edição de 2018 do Robert Illustré.




Para Kim Thuy, receber um prêmio é mais do que um reconhecimento; é uma oportunidade para ela falar sobre o lugar de onde veio, a cultura que a criou, as pessoas que a apoiaram, mas acima de tudo, é uma chance para ela dar voz aos sem voz. O público muitas vezes lhe faz perguntas sobre refugiados e imigrantes, assuntos sobre os quais ela está sempre motivada a falar. Na maioria das vezes, refugiados e imigrantes não têm voz, nem rosto, nem história, nem vida. Kim traz para si a responsabilidade de humanizá-los; uma responsabilidade que ela considera maior do que sua escrita e maior do que ela mesma.


Em novembro de 2013, Thúy foi a convidada de honra do Montreal Salon du livre e, em fevereiro de 2014, tornou-se a presidente honorária do Outaouais Salon du livre.



sábado, 9 de julho de 2022

LYDIA KOIDULA, O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA NACIONAL E A UNIDADE DO POVO DA ESTÔNIA

 




Da dominação estrangeira ao sentimento nacionalista estoniano


Lydia Emilie Florentine Jannsen, poetisa e prosadora, conhecida como Lydia Koidula, nasceu em 24 de dezembro de 1843, em Vana - Vändra, na Estônia. Seu pai, Johann Voldemar Jannsen, foi autor da letra do atual do hino nacional da República da Estônia e fundador dos jornais Pärnu Postimees  e Eesti Postimees. Lydia é conhecida na história da Literatura estoniana como uma poetisa lírica. Autora de várias coletâneas de poemas, atingiu seu auge artístico entre 1860 e 1880. Ela buscava, com seus poemas, despertar a consciência nacional e a unidade do povo estoniano. Muitos desses poemas se tornaram canções populares no decorrer do tempo.


A Estônia é um país localizado no norte da Europa, banhado pelo Mar Báltico e limitado pelo Golfo da Finlândia. A partir do século X, os vikings da Escandinávia avançaram pela região e inauguraram um período de intensificação das ocupações estrangeiras nos países bálticos, incluindo a Estônia. O país passou pelo domínio de dinamarqueses, ordens católicas, suecos, alemães e russos. 


Os alemães invadiram a Estônia no século XIII e entraram em conflitos diretos com os vikings. O domínio alemão se estendeu até o século XVI. Letônia e Estônia formavam a Confederação Livoniana. Com o fim da confederação, a Estônia foi incorporada ao Império Sueco, que passou a abranger grande parte da região do Báltico.


Enquanto uma rica cultura folclórica de canções, contos de fadas, provérbios e enigmas florescia nas aldeias, não existiam ainda uma linguagem literária e Literatura estoniana. A intelectualidade urbana estava sob forte influência alemã e, posteriormente, russa. Pobreza e ignorância rondavam o campo, enquanto línguas e tradições estrangeiras tomavam conta das cidades da Estônia.




Inspirados no folclore tradicional estoniano e no épico Kalevala, da Finlândia, Friedrich Robert Fählmann (1798–1850) e Friedrich Reinhold Kreutzwald (1803–1882), médico e escritor estoniano considerado o pai da Literatura nacional, passaram três décadas coletando lendas, mitos e canções antigas de sua nação. A essa altura, os intelectuais estonianos, influenciados pelo espírito do nacionalismo romântico, pediram aos estudiosos que "dessem à nação um épico e uma história; o resto seria ganho".


De 1857 a 1861, encorajado pela Sociedade Erudita da Estônia,  fundada em 1838, Kreutzwald publicou a obra épica em sua forma final de 18.993 versos sob o título Kalevipoeg (O Filho de Kalev, pai dos heróis). Poderoso e agitado, Kalevipoeg termina com a profecia de que um dia o filho de Kalev será libertado por um incêndio da rocha que o mantém prisioneiro, e os estonianos voltarão a ser um povo feliz e próspero.


Período do Despertar Nacional na Estônia



Quando Koidula começou a publicar suas obras, na década de 1860, o clima político e literário era bastante autoritário. Apesar disso, foi o momento do despertar nacional quando o povo estoniano começou a sentir o orgulho nacional e a aspirar à autodeterminação. Koidula foi a voz mais articulada dessas aspirações.


A Era do Ärkamisaeg (Despertar da Estônia) é um período da história em que os estonianos se reconhecem como uma nação que merece o direito de se autogovernar. Esse período começa na década de 1850, com maiores direitos sendo concedidos aos plebeus, e termina com a declaração da República da Estônia, em 1918. Porém, em 1940, o país foi dominado pela URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A recuperação de sua soberania só aconteceu em 1991, com o fim da URSS.


Movimento Biedermeier



Biedermeier é o termo pelo qual ficou conhecido um estilo popular na Alemanha e na Áustria, parecendo uma imitação simplificada do estilo do império francês que o precedeu. O movimento durou de 1815 a 1848.  O termo tornou-se depreciativo porque designava uma arte avaliada como gosto pequeno burguês, típica da classe média germânica da primeira metade do século XIX. Todavia, para muitos alemães essa predileção era uma virtude e simbolizava a sobriedade, os sentimentos simples e domésticos.



Na Literatura, o termo Biedermeier apareceu primeiro nos círculos literários na forma de um pseudônimo, Gottlieb Biedermaier, usado pelo médico rural Adolf Kussmaul e pelo advogado Ludwig Eichrodt em sua obra Fliegende Blätter (Folhas Voadoras), coleção de poemas que a dupla havia publicado em Munique. 

  

A poesia patriótica de Lydia Koidula


A parte mais significativa da criação de Koidula é sua poesia patriótica. O espírito nacionalista que reivindicava a cultura e a língua nativas em algumas terras sujeitas ao Império Russo, era uma questão muito espinhosa naquela época. No entanto, em 1857, durante o reinado liberal do czar Alexandre II (1855-1881), o pai de Lydia conseguiu convencer a censura e publicar o  Pärnu Postimees, primeiro jornal diário em língua estoniana que circulou até 1863. No mesmo ano ele fundou o Eesti Postimees cujo conteúdo era semelhante ao anterior. Lydia ajudou seu pai na edição dos dois jornais. Em 1865, aos 22 anos, e sob o pseudônimo L, ela publicou seu primeiro poema intitulado Koddo (Casa), no Eesti Postimees


Em 1850, sua família se mudou para um condado perto de Pärnu e, em 1864, para a cidade de Tartu. Talvez a nostalgia de sua terra natal tenha sido o que a inspirou a escrever sua poesia romântica. Ela constantemente se refere ao seu país e ao seu povo que durante séculos viveu em condições próximas à escravidão pelos barões germano-bálticos.




Na primeira coleção anônima de 1866, chamada Waino-Lilled (Flores do Prado), ela seguiu o estilo alemão Biedermeier de sensível poesia idílica. A maioria dos poemas são baseados em modelos e alguns deles já soam uma nota de patriotismo, que se tornaria sua missão. 


Em 1867, na segunda coleção também anônima, chamada Emmajöe Öpik(O Rouxinol de Emajõgi), ela aparece como uma barda da nação, cujos versos romanticamente exultantes expressavam os sentimentos e pensamentos de uma nação que despertava para uma nova vida. Bardo, na Europa antiga, era a pessoa encarregada de transmitir histórias, mitos, lendas e poemas de forma oral, cantando as histórias do seu povo em poemas recitados.  


Mais tarde, os bardos seriam chamados trovadores. As tradições musicais e literárias que transmitiram às gerações sucessivas deram origem às canções de gesta. Para tocar suas músicas, o bardo usava frequentemente um alaúde, instrumento de cordas, de origem árabe, com caixa-de-ressonância em forma de meia pêra e braço comprido. Na maioria das vezes os bardos contavam uma história triste ou poemas épicos, com acompanhamento de liras ou de harpas.


A influência alemã no trabalho de Koidula era inevitável. Os alemães do Báltico detinham a hegemonia na região desde o século XIII. Durante todo o domínio alemão, polonês, sueco e russo, o alemão era a língua de instrução e da intelectualidade na Estônia do século XIX.


A língua estoniana como um instrumento de comunicação nas obras de Koidula

 

A tradição literária estoniana iniciada por Friedrich Reinhold Kreutzwald, continuou com Koidula. Enquanto O Bardo de Viru tentou imitar as tradições folclóricas regivärss estonianas antigas, Koidula escreveu em modernos medidores de rima da Europa Ocidental, a forma dominante em meados do século XIX. 


Com isso, a poesia de Koidula ficou muito mais acessível ao leitor popular. Mas sua maior importância não está tanto na forma preferida de verso e sim em seu poderoso uso da língua estoniana. O estoniano, na década de 1860, ainda estava restrito a uma província báltica da Rússia Imperial dominada pelos alemães. Era a língua do camponês oprimido. 



A língua estoniana permaneceu objeto de disputas ortográficas, ainda usado principalmente para textos educacionais ou religiosos predominantemente paternalistas, conselhos práticos para agricultores ou contos populares baratos e leves. 


Portanto, a importância da poesia de Koidula não está no tipo de verso poético e sim no uso desenfreado e explosivo da língua estoniana, como meio de descarga emocional e poética. Ela usou, com sucesso, o vernáculo para expressar emoções que vão desde um poema afetuoso sobre o gato da família, em Meie kass (Nosso gato), em uma delicada poesia de amor, Head ööd (Boa noite) até à vingativa Mo isamaa, nad olid matnud (Meu país, eles o enterraram). Com Lydia Koidula a visão colonial de que a língua estoniana era um instrumento de comunicação subdesenvolvido foi, comprovadamente contrariada.


Pioneira na dramaturgia estoniana


Na Estônia, no início do século XIX, o teatro não era apreciado e muitos escritores consideravam de pouca importância a dramaturgia e a arte teatral, mesmo tendo Kreutzwald traduzido duas tragédias em verso. 




Em 1865, em Tartu, os Jannsens fundaram a Vanemuise Selts (Sociedade Vanemuine) com o objetivo de promover a cultura estoniana.  Lydia foi a primeira a escrever peças originais em estoniano e a abordar os aspectos práticos da direção de palco e produção. 


No final da década de 1860, tanto estonianos quanto finlandeses começaram a desenvolver trabalhos em suas línguas nativas. Koidula, escreveu e dirigiu, para a Sociedade Vanemuine, a comédia Saaremaa Onupoeg (Primo de Saaremaa) no Solstício de Verão de  1870. A peça, considerada o início do teatro de língua estoniana, foi baseada na farsa de Theodor Körner Der Vetter aus Bremen (O Primo de Bremen), adaptada a uma situação estoniana. A caracterização era rudimentar e o enredo simples, mas popular. Por isso, Lydia Koidula é considerada a fundadora do teatro estoniano. 


A relação de Koidula com o teatro foi influenciada pelo filósofo Gotthold Ephraim Lessing (dramaturgo, filósofo e crítico de arte alemão, considerado um dos maiores representantes do Iluminismo, conhecido também por sua crítica ao anti-semitismo e defesa do livre pensamento e tolerância religiosa). Ele foi autor da peça Erziehung des Menschengeschlechts (A educação da raça humana, de 1780). Suas obras consideradas didáticas eram um veículo de educação popular. 


Os recursos teatrais de Koidula eram poucos e grosseiros (atores inexperientes, amadores e mulheres interpretadas por homens), mas o que impressionava seus contemporâneos era a galeria de personagens críveis e o conhecimento de situações contemporâneas. Muito menor em escala, mas pioneiro, é o trabalho dramático criado por Koidula e suas atividades no estabelecimento do palco estoniano.



Suas peças, modestas e simples diante das circunstâncias, iniciaram uma veracidade na vida das pessoas e um pensamento idealista no palco estoniano, razão pela qual foram repetidamente encenadas em anos posteriores.


Biografia


Lydia Emilie Florentine Jannsen nasceu em 24 de dezembro de 1843 (embora algumas biografias indiquem que ela nasceu em 12 de dezembro), na cidade de Vana-Vändra, Condado de Pärnu, na antiga província da Livônia. Ela era filha do ativista político e cultural Johann Voldemar Jannsen, fundador do Pärnu Posttimees, primeiro jornal em língua estoniana, em 1857, e do Eesti Postimees, em 1863. Ele também foi autor da letra do atual hino nacional da República da Estônia: Mu isamaa, mu õnn ja rõõm (Minha terra natal, minha felicidade e alegria', 1869). A mãe dela era alemã e pouco se sabe sobre ela.


Em 1850, sua família se estabeleceu em Pärnu, onde ela estudou em uma escola alemã para meninas (1854-1861), e em 1862 ela passou com sucesso no exame da Universidade de Tartu e obteve o diploma de tutora.


Em 1863, toda a família mudou-se para Tartu (Dorpat, na época), a cidade mais liberal da Estônia. Em 1869, Johann Voldemar Jannsen foi a pessoa-chave no início da tradição do festival da canção Lalupidu. Reunindo coros de todo o país, o festival se tornou o evento cultural mais importante para os estonianos e um suporte fundamental para sua consciência como nação. 





Em 1873, Lydia se casou com Edward Michelson, um estudante letão da Universidade de Tartu. Eles se mudaram para Kronstadt, onde ele trabalhou como médico militar. Em 1874, nasceu seu primeiro filho, Hans Waldemar; dois anos depois nasceu a filha, Hedwig, e em Viena, nasceu a segunda filha, Anne, em 1878. Entre 1876 e 1878, a família Michelson viajou para cidades como Breslau, Estrasburgo e Viena. Vítima de câncer, Lydia morreu em Kronstadt, perto de São Petersburgo (Rússia), em 11 de agosto de 1886.



Quem é quem




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